segunda-feira, 5 de agosto de 2019



05 DE AGOSTO DE 2019
+ ECONOMIA

Corte no juro tem "impacto pequeno"

Com a economia abraçada em dificuldades, o Banco Central (BC) resolveu acelerar a retomada dos cortes na taxa básica de juro no último 31. Mesmo assim, analistas projetam efeitos tímidos no curto prazo para o consumidor. Especialista no assunto, Miguel Ribeiro de Oliveira considera que a redução é "importante", mas com impacto "pequeno". Com a baixa de 0,5 ponto percentual, a Selic caiu a 6% ao ano, menor nível já registrado no país.

- Não fazia sentido manter o juro no patamar anterior diante do cenário de inflação baixa e economia fraca. A queda é importante, mas deve gerar impacto pequeno, coisa de alguns centavos ou reais a menos nos financiamentos - aponta Oliveira, diretor executivo de estudos e pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

O especialista lembra que, em junho, mesmo com a Selic inalterada à época, taxas disponíveis em instituições financeiras subiram no país. Conforme pesquisa da Anefac, as linhas oferecidas a pessoas físicas tiveram alta de 1% frente a maio, em média, para 118% ao ano.

Analistas mencionam que o fato de os cortes na Selic não chegarem ao consumidor com o mesmo vigor está relacionado, em parte, à concentração do sistema bancário. Inadimplência em nível alto também impacta.

- As taxas deverão ter novas baixas, mas estarão em patamar elevado até o final do ano. Para caírem mais, é necessário que a economia tenha crescimento maior, o que poderá acontecer em 2020 - diz Oliveira.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS Economista

A redução nos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é vista com preocupação por Luiz Carlos Mendonça de Barros, presidente da instituição nos anos 1990. Segundo o economista, a medida afetará empréstimos de longo prazo na área de infraestrutura, com impactos no programa de privatizações do governo Jair Bolsonaro.

O governo federal pretende diminuir a atuação do BNDES. Qual sua avaliação?

É um erro terrível, apesar da utilização errada do banco em boa parte do período do PT. O BNDES tem quase 70 anos de história. Tem grande espaço na oferta de crédito de longo prazo. Colocar uma camisa de força no banco é erro histórico. Isso vai custar ao próprio governo.

Por quê?

Na hora em que o programa de privatizações em infraestrutura for implementado, não vai ter banco com capacidade de atender à demanda de empréstimos de prazo mais longo. Quando se fala em infraestrutura, o período é de cinco a 10 anos. Não existe banco privado para ocupar esse espaço, muito menos o que o presidente do BNDES (Gustavo Montezano) chama de butique financeira da Faria Lima (avenida de São Paulo que reúne instituições financeiras). Trabalhei 30 anos lá na Faria Lima e sei o que estou falando. Vai faltar dinheiro de longo prazo. O maior impacto não é agora. Com a crise, não existe demanda por investimento hoje. Mas, se olharmos para frente com otimismo de que haverá recuperação cíclica e projetos ambiciosos de infraestrutura, a falta do BNDES será sentida. Aí o leite já estará derramado. Estão desconstruindo estrutura preparada para essas atividades.

A economia corre risco de entrar em recessão técnica, com dois trimestres seguidos de queda no Produto Interno Bruto (PIB). Como descreve o atual cenário?

Esse negócio de recessão técnica é besteira. É uma norma internacional só para termos uma referência. O que caracteriza hoje a economia brasileira é a escassez de demanda. O desemprego e a queda na renda, com juro elevado, tiram o consumidor do mercado. Do lado do investimento, com a capacidade ociosa na indústria, quem vai aumentar a produção? É uma situação muito difícil, que não ocorre sempre. A crise de hoje é um ponto fora da curva. É preciso criar demanda, mas há dificuldades. Vai ser difícil colocar isso em prática em período rápido. O programa de privatizações criaria dinâmica de investimento e consumo no primeiro momento. Mas isso ocorre só em dois anos para frente.

Há alguma medida que pode dar estímulo no curto prazo à economia brasileira?

Há algumas sendo feitas. A queda no juro é uma delas, desde que o sistema bancário também baixe suas taxas. Sem isso, não vai adiantar nada. Do lado dos investidores, as expectativas melhoraram. O programa de saques do FGTS adiciona um pouco de procura por consumo, mas nada que resolva o problema rapidamente. Vamos precisar de dois ou três anos para sair do que chamo de buraco negro da demanda. Será necessária muita paciência. Colocar o BNDES em uma camisa de força vai no sentido contrário. O banco é tido como problema ideológico pela equipe econômica. Eles são contrários, sempre foram. Estão no poder e usando esse poder para levar adiante o que consideram que tem de ser feito. Acho que isso está errado. Mas quem manda são eles, e vamos ver as consequências.

empresas abriram as portas no Estado entre janeiro e julho, conforme a Junta Comercial (JucisRS). O número equivale a avanço de 15,1% em relação a igual período do ano passado.

LEONARDO VIECELI INTERINO

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