segunda-feira, 10 de julho de 2017


10 de julho de 2017 | N° 18893
POLÍTICA + | Rosane de Oliveira

FANTASMAS QUE ASSOMBRAM OS DIAS DE TEMER

No tempo em que Eduardo Cunha era senhor do raio e do trovão, um dos homens que mais conhecem a geografia, a história e a alma do PMDB comparava o então presidente da Câmara com um desses lunáticos que andam com um cinturão de bombas preso ao corpo. E alertava que, se um dia resolvesse apertar o detonador, levaria muita gente com ele. Essa metáfora desgastada se aplica ao momento de Cunha: se o Ministério Público Federal (MPF) aceitar o acordo de delação premiada que ele vem rascunhando, biografias consolidadas irão pelos ares.

É esse homem de andar estranho, codinome Caranguejo nas planilhas da Odebrecht, o pesadelo do presidente Michel Temer. Mais até do que uma eventual derrota na Comissão de Constituição e Justiça, é o ex-presidente da Câmara a preocupação de Temer e do grupo que gravita em torno dele.

Cunha tocou o terror no PMDB e nos políticos de outros partidos com quem se relacionou ao longo dos últimos anos quando começou a mandar recados. Por nove meses, os procuradores do MPF o cozinharam em fogo brando. Em entrevistas ou conversas de bastidores, diziam que não tinham interesse em uma delação dele porque esse tipo de acordo não se faz com quem está no topo de um esquema criminoso. Justificavam que, se aceitassem a delação de todos os figurões envolvidos, a Lava-Jato perderia credibilidade por não punir os cabeças de chave. A situação mudou e o fechamento do acordo com mais de uma centena de anexos (cada anexo refere-se a um delito) pode ocorrer a qualquer momento.

A preocupação com o relatório do deputado Sergio Zveiter, que será lido hoje na CCJ, não se compara ao estrago que o homem-bomba é capaz de provocar, principalmente se resolver explodir o cinturão às vésperas da votação que interessa, a do plenário. O que Zveiter vai dizer é se a denúncia do procurador Rodrigo Janot contém os elementos necessários para justificar um processo contra o presidente da República. Ex-presidente da OAB-RJ, Zveiter tem dito que fez um relatório técnico.

O presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia, já disse incontáveis vezes que, se o critério é técnico, a Câmara tem de autorizar o processo. A OAB, aliás, é signatária de um pedido de impeachment de Temer – e protocolou esse requerimento antes da denúncia de Janot.

Ganhar ou perder na CCJ tem mais efeito psicológico do que prático. Seja qual for o parecer, o que interessa é a votação em plenário, e lá Temer precisa de somente 172 votos para escapar do processo. Hoje, o governo acredita ter esses votos, mas vê crescer a articulação em torno de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e sabe que ficará enfraquecido se perder na comissão. O grande temor é de que as revelações de Cunha despertem as panelas adormecidas e provoquem a implosão da base de apoio no Congresso, como ocorreu com Fernando Collor em 1992.

COM PINTA DE CANDIDATO

Se alguém na plateia do congresso da Federasul, realizado no fim de semana em Canela, tinha dúvidas sobre a candidatura do governador José Ivo Sartori à reeleição, deixou de tê-las.

O governador chegou de surpresa para a abertura oficial, acompanhado de cinco secretários. Fez um discurso em tom de balanço e acabou aplaudido de pé pelos empresários. Começou dizendo que “o Rio Grande do Sul está no meio de uma travessia e a continuidade desse trajeto depende de líderes consistentes e com espírito transformador”. Entre as realizações de seu governo, citou o regime de previdência complementar, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a extinção de órgãos públicos e a renegociação da dívida com a União.

O congresso da Federasul virou um desfile de candidatos ao Piratini. Além de Sartori, passaram por lá Mateus Bandeira (Novo) e Eduardo Leite (PSDB).

aliás

Reunidos ontem à noite, em Porto Alegre, os principais líderes do PMDB gaúcho defenderam a convocação de uma Constituinte exclusiva, revisora e soberana como caminho para o Brasil sair da crise.

BETO TENTA O SENADO

Presidente do PSB no Estado, Beto Albuquerque lançou no fim de semana, em Passo Fundo, sua pré-candidatura ao Senado. É nessa condição que ele vai começar a percorrer o Rio Grande do Sul defendendo o retorno do debate sobre o parlamentarismo e a convocação de uma Constituinte exclusiva para realizar a reforma política.

Cortejado por diferentes partidos para uma aliança em 2018, o PSB deve integrar uma coligação robusta, capaz de garantir a conquista de uma das vagas ao Senado.

Das manifestações dos socialistas, conclui-se que, hoje, a tendência é ficar ao lado do PP, para que Beto esteja na mesma chapa da senadora Ana Amélia Lemos, candidata à reeleição.

PP e PSB participam do governo Sartori. Embora setores do PP prefiram uma aliança com Eduardo Leite (PSDB), é mais forte a ala disposta a apoiar a reeleição.

Na sexta-feira, no congresso da Federasul, em Canela, o governador rasgou elogios a Ana Amélia. Disse que ela nunca faltou ao Rio Grande. E contou que em 2014, quando foi para o segundo turno, ganhou de Ana Amélia o plano de governo dela.

– Muito do que estava lá nós estamos cumprindo – disse.

Cabo eleitoral de luxo

O mais popular entre os líderes do PT no Rio Grande do Sul, Olívio Dutra vem sendo pressionado a concorrer novamente a governador, mas resiste. Aos 76 anos, diz que será apenas um cabo eleitoral do partido na campanha.

No fim de semana, o ex-governador percorreu 900 quilômetros em companhia do deputado Valdeci Oliveira e de líderes do PT. Esteve em Santa Maria, Santiago e São Pedro do Sul e foi o mais requisitado para fotos.

Na 24ª Feira Internacional do Cooperativismo (foto), em Santa Maria, saboreou um prato de arroz, feijão, mandioca e carne de panela ao lado de Valdeci, do deputado Elvino Bohn Gass e de produtores e expositores.

Banco de milhas

O Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços está interessado em conhecer o banco de milhagens instituído pelo Tribunal de Contas do Estado em 2013, na gestão de Cezar Miola.

A iniciativa prevê que os créditos de milhagens resultantes de viagens aéreas custeadas com recursos públicos sejam incorporados ao erário e utilizados apenas em missões oficiais.

A experiência também consta na justificativa do projeto de lei N.º 5.225, de 2016, do deputado Ronaldo Nogueira, que prevê a criação de bancos de milhas para os demais órgãos públicos brasileiros.

COMO SER REFERÊNCIA EM EDUCAÇÃO?

Essa pergunta será o foco do Brasil de Ideias, que a revista Voto promove hoje, em Canoas. Na mesa, a escritora Lya Luft, o gerente do projeto Todos pela Educação, Olavo Nogueira, e o secretário estadual da Educação, Ronald Krummenauer.