domingo, 16 de julho de 2017


elio gaspari
16/07/2017  02h00

Se flechadas forem boas, Janot será Tarzan; senão, macaquinho


TARZAN OU CHITA

A tática do "enquanto houver bambu, lá vai flecha" enunciada pelo procurador-geral Rodrigo Janot insinua que depois da primeira denúncia contra Michel Temer, virão outras.

Se as novas flechas trouxerem fatos novos e gordos vindos de gente como Eduardo Cunha ou Lucio Funaro, Janot será um Tarzan, o rei das selvas. Se vierem flechas magras, a ameaça do bambu terá sido coisa do macaquinho.

MORO NA DEFESA

Sergio Moro é um juiz discreto e frio. Costuma usar camisas pretas com gravatas vermelhas, mas ninguém é perfeito. Sua sentença contra Lula teve 962 parágrafos metódicos e cirúrgicos, mas neles revelou-se também um litigante defensivo e sanguíneo, quase inseguro.

A defesa de Lula combateu-o com uma tática guerrilheira, tentando apresentá-lo como um magistrado que cerceava a ação dos advogados. Ele nunca passou recibo, mas na sentença, consumiu mais de cinquenta parágrafos defendendo-se. Num lance, rebatendo a ideia de que a imprensa massacra Lula na esteira da Lava Jato, disse o seguinte: "Em ambiente de liberdade de expressão, cabe à imprensa noticiar livremente os fatos. O sucessivo noticiário negativo em relação a determinados políticos (...) parece, em regra, ser mais o reflexo do cumprimento pela imprensa do seu dever de noticiar os fatos."

Tem toda a razão, mas quem escreveu uma carta para a Folha de S. Paulo reclamando porque o jornal publicara um artigo do professor Rogério de Cerqueira Leite atacando-o foi Sergio Moro.

Ao reconhecer encrenca do vazamento, Moro faz acrobacia verbal

MADAME NATASHA

A admiração de Madame Natasha pela Operação Lava Jato é tamanha que ela se mudou para Curitiba. Apesar disso, na defesa do idioma, concedeu uma de suas bolsas de estudo ao juiz Sergio Moro pelas suas acrobacias verbais.

No ano passado Moro liberou o grampo de uma conversa de Lula com a presidente Dilma Rousseff, apesar de ela ter ocorrido fora do prazo legal da escuta. Diante da encrenca e de uma repreensão vinda do ministro Teori Zavascki, ele pediu "respeitosas escusas ao Supremo Tribunal".

Passado um ano, Teori morreu, e Moro reescreveu-se:

"Ainda que, em respeito à decisão do Supremo Tribunal Federal, este julgador possa eventualmente ter errado no levantamento do sigilo, pelo menos considerando a questão da competência, a revisão de decisões judiciais pelas instâncias superiores faz parte do sistema judicial de erros e acertos."

UM GRANDE JUIZ

Perdida no meio da sentença do juiz Moro há uma breve citação de uma opinião do juiz americano Learned Hand, justificando o uso da colaboração de criminosos.

Com esse nome esquisito, que significa "Mão Educada", Learned Hand (1872-1961) não era índio e foi o equivalente a um desembargador na região de Nova York. Desgraçadamente, ele nunca foi para a Corte Suprema.

Em 1917, quando os Estados Unidos viviam uma de suas fases de histeria belicista, Learned Hand protegeu um jornal pacifista de esquerda. Sua sentença acabou revogada e ele se tornou um juiz impopular, mas suas reflexões em torno da liberdade de expressão estão na base da doutrina jurídica americana.