quarta-feira, 26 de julho de 2017


26 de julho de 2017 | N° 18907 
MARTHA MEDEIROS

A vez dos avós


O veto migratório proposto por Trump aos cidadãos de Síria, Irã, Líbia, Somália, Sudão e Iêmen chamou a atenção não só pela discriminação religiosa, mas também por liberar a entrada apenas de imigrantes e refugiados que fossem pais, irmãos ou filhos de norte-americanos: avós não foram considerados parentes próximos. Como sandice tem limite, o presidente teve que voltar atrás e incluir os velhinhos na liberação.

Eu disse velhinhos?

Velho é uma palavra que não se usa mais. Uma pessoa pode ser antiga, mas isso não significa que seja um matusalém – pode ser antiga aos 15, aos 26, aos 32. Se a questão for apenas a idade, ninguém mais é velho, e sim maduro. Algumas de minhas amigas já têm netos, o que não as impede de fazerem trilhas, dançarem até às cinco da manhã, postarem suas aventuras nas redes, trabalharem e se apaixonarem. São avós porque esse é o nome que se dá quando os filhos da gente começam a ter seus próprios filhos, mas a atmosfera caquética se dissipou. Hoje é dia dos avós e não será comemorado com avental, fogão e agulhas de crochê, e sim com jeans, boteco e cílios postiços.

“Que ridículo, mãe”, talvez diga a mulher de 50 para sua mãe de 75 que é ala de um time de basquete veterano. “Que ridículo, mãe”, talvez diga a garota de 25 para sua mãe de 50 que vai passar o fim de semana na Praia do Rosa com o namorado surfista. “Que ridículo, mãe”, talvez diga a garota de 14 para sua mãe de 40 que está fazendo sua primeira tatuagem. “Que ridículo” é a forma condensada de os mais moços demonstrarem o medo de que seus “velhos” estejam pensando mais em si mesmos do que em seus descendentes. 

É infantil, mas compreende-se: todos querem ser cuidados por quem chegou antes, ser a razão da vida de seus predecessores. Difícil aceitar que quem nos colocou no mundo está casando pela terceira vez, está se preparando para estudar inglês na ilha de Malta, está fazendo planos. Planos! Os maduros estão humilhando as novas gerações. Quanto mais idade, mais ativos, enquanto que seus filhos e netos ainda não sabem o que serão quando crescerem.

Talvez do que a garotada esteja precisando é ter uma dimensão mais aproximada da morte. O fim ainda está longe pra eles, então ficam meio prostrados, esperando alguma garantia antes de se aventurarem. Temem escolher errado, temem fracassar e, enquanto isso, o tempo passa. Tempo que seus avós não têm mais para esbanjar: jogam-se sem precisar de garantia pra nada. O fato de os “velhinhos” estarem mais dinâmicos não fragiliza seus vínculos, continuam sendo parentes próximos, ainda que viajem, excursionem, pedalem e corram – pra longe dos estereótipos.