quarta-feira, 19 de julho de 2017



19 de julho de 2017 | N° 18901
COMPORTAMENTO

Chegou a hora de celebrar o mesversário

IMPULSIONADO POR CELEBRIDADES, hábito de festejar cada mês completado pelos bebês atrai famílias e aquece mercado

Quem tem filhos sabe: uma das pressões que recaem sobre os pais é a comemoração do primeiro aninho de vida dos rebentos. A festa tem de estar à altura da odisseia que são os primeiros 365 dias de um bebê. Mas, para algumas famílias, esperar todo esse tempo para cantar o primeiro Parabéns é um sacrifício que não faz parte da rotina. Pais e mães têm se empenhado em celebrar cada mês de vida das crianças, nos chamados mesversários.

Celebridades impulsionaram os mesversários. No ano passado, a atriz Deborah Secco virou notícia a cada comemoração que preparava para a filha Maria Flor. Mensalmente, as festas com decoração temática e lembrancinha eram divulgadas por publicações voltadas ao mundo dos famosos. Entre os anônimos, a moda pegou, mas as cifras investidas são mais modestas. Basicamente, os pais compram um bolinho e chamam os familiares mais próximos. No entanto, aos poucos, as celebrações vão ficando requintadas. 

Os bolos já são encomendados em casas especializadas, adornados por bichinhos, personagens de contos de fadas e desenhos animados – além de trazerem o nome do bebê. A roupa do mesversariante tem de estar alinhada à solenidade: há no mercado roupinhas específicas, com o número dos meses estampado, para que se possa documentar, em fotos e vídeos, toda a cronologia do primeiro ano de vida.

A nutricionista Vanessa Moraes dos Santos, dona de um ateliê de doces em Porto Alegre, há algum tempo tem os bolinhos de mesversário como carro-chefe do empreendimento. Segundo ela, de uns três anos para cá, a demanda só aumenta e, como a celebração, apesar de simples, geralmente acaba registrada nas redes sociais, a própria clientela se encarrega da divulgação.

– Os pais sempre colocam a foto do bebê com o bolo decorado. Então, as pessoas perguntam e nos procuram direto – diz Vanessa.

A fotógrafa Luciana Hoffmann também percebeu o interesse pela celebração mensal e investiu na proposta. Ela tem clientes que fazem sessões de fotos com referência, nas roupas ou no cenário, ao número de meses que a criança está completando.

– Noto que as mães fazem isso como uma celebração da vida, uma conquista – observa Luciana.

As famílias que entraram na onda não veem a comemoração somente como um modismo. A professora e educadora física Tanise Azambuja Nunes de Oliveira celebrou mês a mês o desenvolvimento do primeiro filho, Breno. O menino completou um ano neste mês. A ideia dos mesversários, conta Tanise, foi, sim, motivada pelo que ela e o marido, Douglas Oliveira, acompanhavam na internet, mas não só isso.

– Mais do que só uma moda, acho que esses momentos são tão importantes que não precisamos esperar um ano para desfrutar. Todos os meses, eu fazia ou mandava fazer um bolo e também cachorro- quente para comemorar. Vinham os avós, os tios e os padrinhos. Cada mês era uma festa – conta.

A professora Tanise reconhece que há o gasto fixo ao menos com o bolo durante os 12 meses de comemorações, mas nunca se permitiu exageros e compras além do que considerava necessário para marcar a data. Gastava no máximo R$ 100.

– Teve um bolo que custou R$ 15, bem pequeno, só para o dia mesmo. Não saía comprando adoidada. O que a gente queria era festejar os progressos dele e as descobertas, além de ele ser o primeiro neto das duas famílias – diz.

CUIDADOS PARA QUE O EVENTO NÃO VIRE UM TRANSTORNO

A economista aposentada Waleska Pires não fez o mesversário dos filhos, mas os dos netos Arthur e Helena. Ela optou por uma comemoração simples, com bolo decorado e a presença dos pais:

– Até o um aninho deles, eu fiz a festinha, mas era só um bolinho para cantar o Parabéns. Para mim, é a celebração da vida.

Terapeuta de família e psicopedagoga, Sandra Guimarães não vê problemas em acrescentar mais uma celebração ao calendário dos bebês, mas atenta para que as famílias observem se a festa não se tornará um transtorno, no caso das puérperas, ou uma armadilha de consumo – e a quantidade de produtos criados para festejar mesversários demonstra que há um apelo neste sentido.

– A celebração é válida, desde que ela realmente tenha um significado – avalia Sandra. Para a assessora superior judiciária Rozicler Nöthen, a festinha mês a mês preparada para a filha Betina foi a maneira de possibilitar aos padrinhos o acompanhamento de perto do crescimento da afilhada e driblar a correria do dia a dia, que, por vezes, impossibilita os encontros.

– Foi uma forma divertida, saborosa e alegre de fazer o registro dessas fases lindas do primeiro aninho da nossa pequena – afirma.

bruna.porciuncula@zerohora.com.br