segunda-feira, 24 de julho de 2017



24 de julho de 2017 | N° 18905PERIMETRAL | 
Com Júlia Burg julia.burg@zerohora.com.br

É DE SE PERDER A CABEÇA

O monumento ao lado deveria exibir a cabeça de Francisco Brochado da Rocha – primeiro-ministro do Brasil durante o breve parlamentarismo que antecedeu o golpe de 1964 –, mas a escultura foi decapitada 10 dias depois de sua restauração.

Aliás, todas as obras restauradas em 2016, no Parque da Redenção, foram destruídas em menos de duas semanas. Brochado da Rocha, Imperatriz Leopoldina, Alberto Bins, João Wesley, Luiz Englert e Francisco de Assis Brasil, se não ficaram sem cabeça, acabaram irreconhecíveis. Em 2014, outros seis monumentos da Redenção já tinham sido recuperados pelo mesmo projeto do Sinduscon – e nenhum deles durou um mês.

– Não se tem notícia de outra cidade no mundo, em tempos de paz, que tenha perdido mais monumentos do que Porto Alegre. Nos últimos 17 anos, pelo menos um terço das nossas 300 obras sofreu perda total – calcula o professor do Atelier Livre José Francisco Alves, autor do livro A Escultura Pública de Porto Alegre.

José Francisco diz que essa devastação ganhou força na virada do milênio, quando, nas palavras dele, “houve uma quebra de qualidade no bem viver urbano do porto-alegrense”:

– A qualidade do espaço público tornou-se um horror: as ruas são uma buraqueira, as praças são malcuidadas, a Ponte de Pedra foi abandonada, o Mercado Público segue em obras. E o que é o Viaduto Otávio Rocha? A depredação dos monumentos é só a ponta mais visível da relação entre a cidade e seu espaço público.

Mas o historiador Gunter Axt aponta para a realidade distante da região central. Cita, por exemplo, os frequentes tiroteios na periferia e o toque de recolher imposto pelo tráfico:

– Uma pessoa que tem parte de sua cidadania sequestrada nunca se sentirá pertencendo ao espaço público. O resto da cidade não se preocupa com ela, a imprensa, tampouco. Como é possível exigir que ela se preocupe com o resto?

É de ser perder a cabeça mesmo. 5 anos, contados desde 2013, é o tempo que a prefeitura deve levar para reabrir o segundo piso do Mercado Público.

TÁ, E O MERCADO?
Esse número à esquerda chega a ser obsceno. No século 19, quando as técnicas de engenharia eram bem mais precárias, a construção do Mercado Público demorou cinco anos – começou em 1864, e a inauguração foi 1869. Quase 150 anos depois, em 2013, um incêndio destruiu uma parte do segundo piso. E a reabertura só deve ocorrer em 2018 – ou seja, os mesmos cinco anos para uma obra bem menor.

É de se perder a cabeça.

A CARA DA RUA
Qualquer mapa que tu imaginar eu tenho. Quem trabalha com enfermagem, massoterapia, pede o mapa de anatomia. Quem trabalha com vendas pelo Interior, pede o do Rio Grande do Sul. Motoqueiros que fazem entrega compram o de Porto Alegre. O que salva o meu negócio é que o mapa tem toda uma beleza, uma elegância, é colorido. Na internet, é só uma telinha.

Ricardo da Silva Wyse, na Rua Olavo Barreto Viana