sábado, 22 de julho de 2017



22 de julho de 2017 | N° 18904 
PIANGERS

Minha mulher

Já consultei e posso garantir que minha esposa não se importa que eu a chame de minha mulher, bem como eu mesmo não me importaria que ela me chamasse de meu homem. Pelo contrário, acho até que me confere um ar viril. Mas entendo que minha mulher é muito mais comum do que meu homem por causa do patriarcado, nome horrível para uma herança mais horrível ainda de homens dominando mulheres que, não se enganem, está por toda parte ainda hoje e não tem pinta de acabar.

Seria, portanto, um esforço começar a chamar a Ana de “minha esposa”, pra contribuir com esse tipo de consciência. Mas “minha esposa” eu acho muito formal, me sinto com um terno branco e chapéu, a Ana com um vestido cheio de babados. 

Outra opção seria “minha cônjuge”, mas além de ser pior ainda, é quase impronunciável. Estou pensando em chamar minha mulher por um impessoalíssimo “Ana”. É o nome dela. Será que quem não nos conhece vai achar estranho? Será que leitores novos irão entender que a Ana é minha cônjuge? Cônjuge, que palavra feia pra uma coisa tão bonita.

Pois bem, estou alternando entre “Ana” e “minha esposa” e, não faz muito tempo, uma menina veio me dizer no final de uma palestra que ficou incomodada com “esposa”, pois lembra o ato de desposar alguém, e achava que o melhor seria “minha companheira”. 

Agora, acho realmente que o esforço de achar um termo que agrade a todos já demonstra uma boa vontade da minha parte, mas tá difícil. Usarei companheira até alguém problematizar também este termo. Ou Ana. Acho que Ana é o mais seguro. Mas quando perguntarem: “que Ana?”, o que eu respondo? Minha mulher? Minha esposa? Minha companheira?

O importante, obviamente, não é como você chama sua companheira, mas como a trata. Você pode se esconder atrás de palavras politicamente corretas para ser ruim com os outros. Acho que é importante buscarmos formas de não agressão verbal, de reflexão sobre os sinais sociais que passamos. Mas mais importante é o que fazemos. A busca pelo respeito passa pelas palavras que usamos, mas culmina na forma como nos tratamos.

Tentarei ser um bom homem para Ana. Independente de como chamarei isso que somos.