sábado, 1 de julho de 2017


01 de julho de 2017 | N° 18886
L.F.VERISSIMO

Pelo computador


Em 2018, teremos eleições, e a oportunidade de renovar a política brasileira de cima a baixo. Ou, pelo menos, de melhorar a qualidade dos nossos políticos, mesmo que alguns dos condenados e execrados de hoje consigam se reeleger. Das urnas eletrônicas de 2018, sairá certamente um Brasil melhor. Inclusive porque pior ele não pode ficar.

As urnas eletrônicas são um exemplo da invasão da cultura cibernética nos nossos costumes. E já há quem imagine que elas são o começo de uma informatização progressiva do processo eleitoral que culminará, um dia, com a eliminação do próprio candidato. Assim como as urnas eletrônicas tornaram obsoleto o voto de papel, as maquininhas de votar se aperfeiçoarão ao ponto de substituir o candidato por um projeto de candidato.

Em vez de digitar na urna os números que identificam o candidato com as características e as qualidades que você quer, você digitará os números que identificam estas características e qualidades – e o computador fabricará um candidato com as especificações mais procuradas. Em vez de um presidente, por exemplo, teríamos uma espécie de printout consensual.

Como o amor e as compras, um dia a democracia também será feita só através da internet. Você não precisará sair de casa para votar – e poderá votar em qualquer eleição do mundo! Se a globalização já tivesse chegado a esse ponto, você poderia ter votado nas recentes eleições na França e na Inglaterra, por exemplo, e ajudado a derrotar o Trump. Só não votará quem não estiver ligado na internet, mas, a essa altura, quem não estiver ligado na internet não fará mais nada, e não será mais ninguém.

E um dia o circuito se fechará. Digitaremos no nosso computador para eleger computadores. Computadores programados farão o trabalho do Legislativo e do Executivo. Eliminaremos o fator humano, portanto, a ineficiência e a corrupção, a técnica nos dominará e seremos felizes. Ou infelizes, dará no mesmo, porque não haverá ninguém para culpar, e os computadores farão pouco dos nossos protestos. Até o presidente será um computador central. E, no Brasil, a única coisa certa é que o computador vice será do PMDB.