quinta-feira, 6 de julho de 2017



06 de julho de 2017 | N° 18890 
CARLOS GERBASE

MULHERES NO COMANDO

Não é fácil romper as convenções masculinas na indústria audiovisual, criadas por homens para o prazer visual dos homens. A estratégia que tem se revelado mais eficiente é também a mais óbvia: colocar as mulheres nos postos de comando. 

Duas séries de TV contemporâneas – bem diferentes na temática, mas semelhantes no esforço de valorizar o universo feminino – confirmam esse fato. Tanto Outlander, quanto Handmaid’s Tale, são obras de grande qualidade que não reproduzem os estereótipos machistas, especialistas na transformação das personagens femininas em meros objetos para o desejo do sexo oposto.

Outlander é baseada na série literária homônima de Susan Gabaldon. Embora tenha sido desenvolvida por um homem, há duas roteiristas e uma diretora na equipe de realização. No sétimo episódio da primeira temporada, que tem uma longa cena de sexo, as mulheres estão no comando, e tanto o roteiro quanto a direção são femininos. 

O resultado é bem interessante. Handmaid’s Tale foi adaptada de um romance de Margareth Atwood. Nos 10 episódios da primeira temporada, a supremacia feminina é imensa: oito foram dirigidos por mulheres. A série mostra uma sociedade tão machista que algumas mulheres são estupradas legalmente por seus patrões com a benção da igreja. Mas elas vão contra-atacar!

Até o cinemão de Hollywood vem tentando ampliar o espaço feminino. Mulher-Maravilha, filme de uma super-heroína, foi dirigido por uma mulher, Patty Jenkins. Pena que o roteiro, escrito por três homens, recorra a um desfile de clichês que talvez não sejam exatamente machistas, mas passam longe de libertar a amazona das velhas armadilhas do amor romântico. Quando chega na hora do sexo, uma introdução constrangedora é seguida por uma elipse mais falsa que a maquiagem imaculada da guerreira. 

Convém, contudo, ter certa paciência com Hollywood. Não se muda um século de desigualdade de uma hora pra outra. Se as mulheres continuarem sua escalada profissional, pouco a pouco teremos um cinema e uma televisão mais igualitários e mais interessantes. Não é que os homens sejam ruins: eles apenas precisam reconhecer que as mulheres podem fazer tudo um pouquinho melhor.