sexta-feira, 7 de julho de 2017


Notícia da edição impressa de 07/07/2017.
Alterada em 06/07 às 17h10min

O suspense na fronteira, por Tailor Diniz


Até pouco tempo atrás, dizia-se que o romance policial no Brasil não tinha tanta relevância. O policial se iniciou com Edgar Allan Poe, em 1841, com Assassinatos na rua Morgue, e seguiu firme e forte, no mundo todo, encantando leitores.

No Brasil, a coisa começou em 1920, em obra coletiva de Coelho Neto, Afrânio Peixoto, Medeiros e Albuquerque, e Viriato Correa; e se desenvolveu bastante, até chegar a Rubem Fonseca, Luiz Alfredo Garcia-Roza, Marcos Rey, Flávio Moreira da Costa e Patricia Melo, entre outros. Tailor Diniz, autor de 16 livros, entre os quais o premiado Transversais do tempo (Açorianos e Ages de 2007) e o romance A superfície da sombra (2012, Grua), adaptado para o cinema pelo diretor Paulo Nascimento em 2017 e que já teve pré-estreia no Chuí, mantém a tradição na área do romance policial, com várias obras.

Noite adentro (Grua, 175 páginas, R$ 36,00), obra lançada há poucos dias, é uma história com suspense, ritmo ágil, enredo envolvente e personagens bem construídos, narrada em linguagem que flui tranquila como água de rio. A narrativa se inicia com a chegada de Antônio Messias na fronteira do Brasil com o Uruguai para visitar o amigo que mora no país vizinho. Inácio Armendía, o amigo uruguaio, que foi seu colega de faculdade e de militância nos badalados anos 1970, o recebe com a senha: "Eu-odeio-rock-in-rio!". Antônio namorou Valentina Torquato, que foi casada com Inácio.

Antônio foge de alguma coisa misteriosa e, com Inácio, vai se envolver no mundo do crime, da bebida, das casas noturnas e das mulheres da fronteira. Entre parrilladas, muita bebida, mulheres, amores, traições e crimes, a narrativa revela o rumo veloz e descontrolado que tomou conta de 12 horas movimentadíssimas noite adentro.

Num romance, uma das coisas mais difíceis é o estabelecimento de um clima ficcional. Diniz mostra bem esse clima da fronteira, lugar que parece um país independente, bom para viver, com suas próprias leis, suas próprias regras e com aquela linha pouco nítida entre o sol do dia, a neblina da noite e a aura de sonho ou delírio. O romance mostra bem o grande poder feminino, justamente num espaço que parece masculino ao extremo. As mulheres de Noite adentro lembram Tudinha, a imortal personagem de Simões Lopes Neto no clássico conto O Negro Bonifácio, que termina assim: "Estancieras ou peonas, é tudo a mesma cousa: tudo é bicho caborteiro... a mais santinha tem mais malícia que um sorro velho!".

Noite adentro junta-se a Em linha reta e a A superfície da sombra, que têm em comum o tema "fronteiras e sombras" e confirma, uma vez mais, Tailor Diniz no primeiro plano da literatura brasileira da atualidade.

lançamentos 

Serafina Corrêa - Memórias da Linha 11 (228 páginas), edição de Fabiano Laércio Mazzotti e organização de Ademir Antonio Bacca, patrocínio da Lei de Incentivo à Cultura, Minc e Buffon, apoio da prefeitura de Serafina, com dezenas de fotos e textos de colaboradores, com passado e presente do vibrante município.

101 Sonetos Centenários (Alcance, 120 páginas), seleção e organização de Areimor Neto, edição e apresentação de Rossyr Berny, traz obras de Areimor e poetas do porte de Bocage, Cruz e Souza, Olavo Bilac, Zeferino Brasil e dezenas de outros. Obra referencial, que nasce clássica. De quanta terra precisa um homem (Via Leitura, 80 páginas, tradução e notas de Natália Petroff, posfácio de Denise Sales), de Lev Tolstói, clássico infantojuvenil do gênio russo, trata de terra, riqueza, ambição, orgulho e contradições humanas, em texto simples e maravilhoso - Jornal do Comércio 

(http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/07/colunas/livros/571803-o-suspense-na-fronteira-por-tailor-diniz.html)