sexta-feira, 16 de outubro de 2020


16 DE OUTUBRO DE 2020
OPINIÃO DA RBS

A CORRUPÇÃO PERSISTE  

A investigação da Polícia Federal (PF) que culminou com o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) flagrado com dinheiro escondido na cueca é um episódio que passará a fazer parte do anedotário político-policial do país, mas principalmente serve de alerta para a necessidade de combate constante à corrupção no Brasil. O caso volta ainda a demonstrar que, para alguns agentes públicos, a chegada da pandemia ao país, que deveria exigir responsabilidade, seriedade e comunhão de esforços para debelar o novo coronavírus, se transformou em mais uma oportunidade para embolsar recursos destinados ao atendimento da população.

Batizada de Operação Desvid-19 pela PF, a ação que chegou a Rodrigues, até ontem vice-líder do governo Bolsonaro no Senado, desarticulou um possível esquema envolvendo emendas parlamentares. Ao longo do ano, diversas outras ofensivas de órgãos policiais e de controle investigaram, em Estados e municípios, condutas de natureza semelhante. Todo ato de corrupção é deplorável e merece punição exemplar. Mas, quando envolve dinheiro destinado à saúde, ainda mais durante a maior crise sanitária dos últimos cem anos, torna-se mais sórdido. Afinal, são verbas que deveriam ser empregadas na tarefa de salvar vidas, mas acabam no bolso de inescrupulosos. Espera-se, portanto, investigação rígida e penas pedagógicas, caso as culpas sejam comprovadas.

O desvio descoberto envolvendo um senador pessoalmente próximo de Bolsonaro mostra ainda o quanto foi infeliz a declaração do presidente de que acabou com a Lava-Jato porque não há mais corrupção no governo. Mesmo que Rodrigues não pertença ao Executivo, é do centrão, grupo que dá apoio político ao Planalto e é conhecido por práticas nem sempre republicanas. Tem indicações para postos federais em seu Estado, Roraima, e emprega em cargo público um familiar de Bolsonaro. De forma correta, o presidente ao menos o removeu ontem mesmo da função. Rodrigues acabou ainda afastado do mandato por 90 dias por decisão do ministro do STF Luís Roberto Barroso.

Não há governo capaz de assegurar a extinção de malfeitos. O próprio presidente e ao menos dois de seus filhos ainda devem melhores explicações sobre funcionários fantasmas, rachadinhas, a atuação de Fabrício Queiroz e depósitos do ex-faz- tudo para a primeira-dama Michele Bolsonaro. As promessas de combate à corrupção do então candidato Jair Bolsonaro, aliás, ficaram perdidas no passado, esquecidas assim que investigações chegaram perto do clã. Além do empenho para murchar a Lava-Jato, estão na conta do governo Bolsonaro suspeitas de interferência demasiada em órgãos como a Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal, a desidratação do pacote anticrime e a remoção do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Justiça para a pasta da Economia. Acabar com a corrupção é muito diferente de fechar os olhos para ela, ainda mais quando a vidraça é alguém próximo.

 

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