quinta-feira, 29 de outubro de 2020


29 DE OUTUBRO DE 2020
DAVID COIMBRA

O mundo da lua 

Talvez ir morar na Lua não seja uma ideia tão ruim, afinal. A Nasa descobriu que existe água lá, em algumas crateras, e possivelmente abaixo do solo também. Isso significa que há condições para se fazer assentamentos humanos no nosso amado satélite.

Alguém pode achar que viver na Lua se trata de possibilidade remota, que não é coisa para já. Ora, não subestime a engenhosidade do homem, lembre-se de que nós fomos capazes de realizações extraordinárias, como o biquíni asa-delta e o bacalhau à Gomes de Sá.

Pense na Lua como a Austrália no tempo do seu descobridor europeu, o capitão Cook. Naquela época, século 18, a Austrália parecia longe como outro planeta. Os condenados que fossem enviados para aquelas lonjuras sabiam que voltar à Inglaterra era praticamente impossível. E olhe no que a Austrália se transformou: um país moderno, com praias de paraíso, cangurus saltitantes e a loira Margot Robbie.

A vantagem de se mudar para a Lua será, exatamente, o isolamento. Porque hoje, na Terra, você não fica isolado em parte alguma. Você pode estar confinado em casa por causa da pandemia, você pode estar passando férias no Alasca ou na Sibéria, não importa, a internet nos conecta de forma instantânea, estamos sempre sabendo de tudo e falando com todos, a todo momento.

Não na Lua. Na Lua, suponho, não pega internet nem TV a cabo. Ou seja: quem viver no mundo da lua só conversará com outros lunáticos. O que pode ser ótimo, porque você participará de fato da comunidade, se inquietará com seus problemas e tentará resolvê-los. Com os australianos pioneiros deve ter sido assim.

Eu, quando morei em Santa Catarina, nos anos 80, me sentia mais distante do Rio Grande do Sul do que quando morei nos Estados Unidos, no século 21. Nos anos 80, a ligação interurbana era muito cara e não existia a possibilidade de ver alguém em vídeo. Nem a Rádio Gaúcha dava para escutar, a não ser que se tivesse um daqueles enormes rádios Transglobo.

Na Lua será igual. Se formos para lá, eu e mais alguns amigos que convocarei, poderemos construir um mundo novo, sem os vícios deste. Já sabemos o que não funciona, não repetiremos os erros. Teremos a chance de fazer tudo certo, desta vez.

Só pode chuteira preta e camisa para dentro do calção, todas as cervejas serão geladas, os políticos não receberão salários, as rádios não tocarão funk, rap ou sertanejo, poderemos fazer a sesta depois do almoço e não haverá campeonatos de pontos corridos. E o mais importante: tem como selecionar só pessoas com senso de humor para colonizar a Lua? Que método usaremos para identificar gente que se leva a sério, a fim de deixá-las cá embaixo, com os terráqueos chatolas? Preciso estudar isso. Não quero, de jeito nenhum, levar pessoas que julgam outras pessoas, no nosso novo e belo mundo lá em cima.

DAVID COIMBRA

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