sexta-feira, 23 de outubro de 2020


23 DE OUTUBRO DE 2020
DIÁRIOS DO MUNDO

A Flórida deve decidir a eleição nos EUA 

O sistema americano, cujo vencedor nem sempre é aquele que ganha no voto popular, mas quem faz maioria no colégio eleitoral, torna as duas últimas semanas de campanha uma gincana para candidatos - e jornalistas que cobrem o pleito. Mas a eleição nos Estados Unidos é mais simples do que parece.

Me acompanhe: na maioria dos 50 Estados americanos, o voto em um ou outro partido está consolidado. Há décadas, os democratas vencem na Califórnia, por exemplo. Quem faz a maioria dos votos populares lá (50% mais um), leva todos os 55 delegados a que o Estado tem direito no colégio eleitoral (mecanismo conhecido como "the winner takes all"). O mesmo ocorre com os republicanos no Tennessee, Estado que dá ao ganhador 11 representantes no colegiado.

Assim, como se diz aqui, no Rio Grande do Sul, os estrategistas das campanhas "não gastam pólvora com chimango": Donald Trump não vai tentar converter a seu favor eleitores da Califórnia, porque, na lógica do vencedor leva todos, lá, o jogo está perdido para ele. Joe Biden também não tentará seduzir os votantes do Tennessee.

Assim, a grosso modo, a disputa fica para seis ou sete Estados, que mudam de lado a cada eleição, os chamados swing states, ou Estados-pêndulo.

Isso explica por que há pouco valor nas pesquisas nacionais, que mostram, por exemplo, ampla vantagem para o democrata: 50,7% de Biden contra 43% de Trump, segundo a média dos mais recentes levantamentos computados pelo site Real Clear Politics.

Pela lógica do winner takes all, não basta ganhar, é fundamental ganhar certo. E aí entram os swing states. Segundo a última pesquisa da agência de notícias Reuters e Instituto Ipsos, Biden está à frente em todos esses campos de batalha. A diferença é que, em alguns, a vantagem está consolidada, como Wisconsin (51% a 43%) e Michigan (51% a 44%). Em outros, como Pensilvânia (49% a 45%) e Arizona (50% a 46%), a diferença está dentro da margem de erro.

Então, se você quiser prestar atenção em apenas um Estado, eu diria: "fique de olho na Flórida". Quem vence lá, leva 29 delegados no colégio eleitoral (são necessários, no mínimo, 270 entre 538 para ser eleito). O Estado é, historicamente, decisivo. Perder ali significa ver sepultada a ideia de chegar à Casa Branca. Vencer decide ou consolida a vitória na noite da eleição.

O Estado ficou ao lado do eleito em quase todas as disputas presidenciais por décadas- por vezes, com brigas acirradas no tapetão. Em 2000, Al Gore e George W. Bush pelearam pela Flórida na Suprema Corte. O republicano acabou ganhando na Justiça por diferença de apenas 537 votos populares, que deram a ele todos os delegados do colégio eleitoral - e a presidência.

Neste 2020, a última pesquisa da Reuters/Ipsos dá 49% da preferência para Biden e 47% para Trump na Flórida. O Estado, que é microcosmo da polarização política do país, em especial na divisão pelos votos de idosos e hispânicos, também é prévia da provável nova disputa judicial que virá na noite do dia 3 pelos delegados da Flórida.

RODRIGO LOPES

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