terça-feira, 27 de outubro de 2020


27 DE OUTUBRO DE 2020
NÍLSON SOUZA

Eleitor facultativo

Pela primeira vez desde que me tornei eleitor, poderei fazer nas próximas eleições uma escolha que deveria ser estendida a todos os brasileiros: votar ou não votar. Respeito os argumentos dos defensores do voto obrigatório, entre os quais o de ter contribuído na formação da consciência cívica da população e o de impedir que partidos mais organizados, com maior número de militantes, perpetuem-se no poder. Mas prefiro o voto facultativo porque acho que o ato individual de participar da escolha de representantes políticos tem que ser muito mais um direito democrático do que um dever imposto por sanções.

Não pensem, porém, que sou um negacionista do voto. Pelo contrário, acho que as pessoas devem ter o direito de não votar, mas também a consciência para votar. Na sociedade da informação, ninguém mais pode alegar ignorância para se omitir. Atualmente, até mesmo o analfabeto político de Brecht sabe que alguém vai escolher por ele e que acabará pagando mais caro pelo feijão, pelo peixe, pela farinha, pelo aluguel e pelo remédio se essa escolha for equivocada. Ainda assim, se o sujeito quiser correr esse risco por preguiça, descrédito ou revolta, que fique em casa no dia do pleito sem medo de punição.

Votar não é garantia de nada, sabemos disso, principalmente quando todos ainda estamos impactados pelos casos recentes do senador que escondeu dinheiro ilícito você sabe onde e da deputada que mandou executar o marido. Esses parlamentares foram eleitos pelo voto livre (e, paradoxalmente, obrigatório) de seus eleitores. Claro que o voto facultativo não é antídoto para safadezas desse tipo, mas a educação para a cidadania certamente é. Pessoas com boa formação moral e intelectual até podem se enganar nas suas escolhas, mas ficam melhor instrumentadas para acertar.

Talvez ainda estejamos distantes desse eleitor modelar, capaz de só ir à urna quando estiver convicto de que seus candidatos trabalharão efetivamente pelo país e pela sociedade. Mas usar o voto como uma aposta lotérica ou inutilizá-lo me parecem alternativas piores.

Na minha estreia como eleitor facultativo, por conta do inexorável feitiço do tempo, espero ter motivos suficientes para votar.

NÍLSON SOUZA

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