quinta-feira, 22 de outubro de 2020


22 DE OUTUBRO DE 2020
ZÉ VICTOR CASTIEL

Novo normal

É muito difícil, para mim, digerir a expressão "novo normal", para definir as nefastas consequências que nos impõe a terrível pandemia que nos castiga.

Para mim, que sou artista, além de empreendedor cultural, "novo normal" é um subterfúgio para amenizar, perante a população, o que é, em realidade, a mais pura tradução do que existe de anormal.

"Novo normal" pressupõe perenidade, mudança definitiva de hábitos e acomodação diante do tolhimento.

Para ficar só no entretenimento através das artes, digo, sem medo de errar: jamais seria normal ir a um teatro de máscara e tentar realmente absorver o divertimento que um espetáculo nos proporciona, com receio de se contaminar, ou com medo da proximidade de outro espectador, porque a arte nunca cumpriria sua finalidade de divertir, emocionar e modificar.

Nunca será normal absorver a ideia de que somente 30% da capacidade de uma casa de espetáculo pode ser ocupada.

Onde já se viu admitir como "novo normal" não estender a mão ao cumprimento, sepultar a doçura ou a paixão de um beijo ou renunciar ao sublime ato de um abraço apertado?

Se admitirmos o "novo normal", estaremos sucumbindo à frieza, ao tédio e à falta de calor humano.

Portanto, amigos, espero, com fervor, pela ciência, que é a única capaz de nos tirar desse período de total anormalidade, para que nos devolvam ao corriqueiro, ao simples e ao verdadeiro lúdico.

Claro que sou sabedor de que os protocolos de segurança são fundamentais e de que muitos dos hábitos bons adquiridos durante a pandemia conservaremos quando voltar a normalidade, mas, ao menos por enquanto, vivemos em regime de exceção da vida. Paciência, sim. Acomodação, jamais.

Que fique bem claro: queremos o normal. "Novo normal" é o "escambau".

ZÉ VICTOR CASTIEL

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