terça-feira, 20 de outubro de 2020


20 DE OUTUBRO DE 2020
OPINIÃO DA RBS

NÚMEROS INACEITÁVEIS 

É frustrante a constatação do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de que o número de assassinatos no país, em trajetória de queda desde 2018, voltou a subir no primeiro semestre de 2020. A violência, que nas últimas décadas passou a ser de forma preocupante parte da rotina dos brasileiros, parecia refluir por razões ainda não bem determinadas pelos especialistas, apesar de uma certa trégua entre grandes facções que dominam o tráfico ter sido apontada como uma das explicações possíveis. Imaginava-se que, devido ao maior isolamento determinado pela pandemia, essa tendência se consolidaria. Desafortunadamente ocorreu o contrário e o Brasil teve, de janeiro a junho, 27,7 mil pessoas vítimas de homicídios, 7% acima de igual período do ano passado.

É inaceitável que a cada 10 minutos o país tenha um assassinato. Governos e sociedade precisam entender as razões do recrudescimento da violência e combatê-las. Não é possível se acostumar com dezenas de milhares de mortes intencionais violentas a cada ano, como se fosse normal ceifar vidas. Como se fosse algo corriqueiro e banal. Embora algumas associações ainda necessitem de análise mais aprofundada, o Fórum Brasileiro da Segurança Pública chama atenção para alguns pontos. Entre eles, aumento de mortes por policiais e de policiais. O maior armamento da população, fruto de políticas do governo federal, não se traduziu em retração da quantidade de assassinatos. Há, portanto, muito a ser estudado e melhor compreendido.

Mesmo quando os números recuavam, o Brasil não deixou de estar nas primeiras colocações entre os países mais violentos do mundo. Além das questões sociais, o sistema prisional em colapso e o baixíssimo índice de homicídios solucionados são fatores que alimentam a violência e a impunidade. Punir, aliás, é necessário, mas antes de tudo é preciso prevenir, com ações que passem pela educação e investimentos que tragam maior dignidade especialmente às comunidades mais carentes, promovendo a inclusão econômica e acesso a serviços mais qualificados, como os de saúde. É um processo, sabe-se, de longo prazo, com soluções multidisciplinares. É lamentável que muitas vezes acabam preteridas nas campanhas eleitorais, em troca de falsas promessas assentadas apenas em maior repressão, uma lógica que acaba realimentando o ciclo das brutalidades e barbáries.

Neste cenário desolador, os gaúchos pelo menos podem notar, moderadamente aliviados, que o Rio Grande do Sul foi um dos Estados onde o número de homicídios diminuiu, conforme vinham mostrando as estatísticas da Secretaria da Segurança Pública. Os 960 assassinatos no primeiro semestre representam queda de 7,2% sobre o mesmo intervalo de 2019, mas mesmo assim é um número ainda longe de qualquer patamar civilizado. Ao menos parece que um caminho foi encontrado. É preciso persistir nele e aperfeiçoá-lo para que a curva permaneça descendente nos próximos anos.

 

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