sábado, 31 de outubro de 2020


31 DE OUTUBRO DE 2020
MÔNICA SALGADO

Pega mal falar, mas... 

Quero emagrecer. E não me venha com o clichê dos dois quilinhos. Estou falando aqui de uma dezena de quilos. Tento, tento, tento, mas não gosto do que vejo no espelho. Sempre tive altos e baixos de peso, fato, só que me excedi demais nos últimos tempos. E tem um lance de gordura visceral que tem tirado meu sono. O médico detectou um nível que ele chamou de preocupante no meu exame de bioimpedância. Nível preocupante de gordura visceral? Quase cuspi o café! Eu? Tudo bem, me alimento mal à beça e tomo vinho demais... mas não me enxergava no grupo do nível preocupante. Sei lá, visto tamanho 40. É sério, doutor? Então é isto: a despeito de todas as legítimas bandeiras ame seu corpo e dos necessários apelos para que nós, influenciadores, não propaguemos padrões irreais de beleza, eu quero emagrecer. E ponto.

Eu me comparo, e muito, nas redes sociais. E isso é um verdadeiro saco. Comparo minha família, meu nível de demonstração pública de amor com meu marido, a educação do meu filho, a criatividade dos meus vídeos, o amor incondicional dos meus pais, meu nível de popularidade no aniversário, o engajamento dos meus publiposts, quem comenta, curte e compartilha o que eu posto, a organização da minha casa, as sacadas das minhas legendas. E comparo meu corpo. Porque, lembram, quero emagrecer. Logo eu, tão analisada e rodada. Logo eu, cujo trabalho é teorizar sobre as redes e seus efeitos muitas vezes nefastos.

De vez em quando, doida que sou, me comparo comigo mesma no passado. Tipo: vejo meus momentos felizes de outrora aprisionados naquele instante que comumente chamamos de fotografia. As danadas são mesmo traiçoeiras. Eternizam aquele nanossegundo de euforia e poesia. E deixam que eles entrem na história, na nossa história, soterrando os desconfortos todos - inevitáveis - que estávamos experimentando antes e depois do clique. "Nossa, que tempo feliz", repetimos. Aí eu me pergunto: se sofro até com a autocomparação (e olha que conheço minha vida além daquele recorte), que dirá me comparando com os outros (cujas vidas só conheço por meio daquele recorte que eles mostram)?

Minha cabeça é complicadinha. Vi um vídeo da Marília Gabriela outro dia, em entrevista ao Porchat, em que ela diz - fazendo tudo parecer muito inteligente, como ela sempre faz - que sua mente era caótica, complexa, cheia de dúvidas e angústias existenciais, e que ela era uma pessoa desequilibrada. Credo, que delícia saber disso. Enquanto todo mundo espera que uma jornalista brilhante como ela seja bem-resolvida e organizada, ela vai lá e... páh! Complicada e perfeitinha, como é quase todo mundo e só uns poucos admitem, porque... pega mal falar. Quero ser sua amiga, Marília. Mas fã já está bom.

Eu amo um vibrador. E mais: tenho usado diariamente. E sou tão desbocada que já falei sobre isso neste espaço. Algumas vezes, se não me falha a memória. É antes do banho, no banheiro mesmo. Um maravilhoso de sucção. Sim, é mesmo como você está imaginando: ele suga o clitóris. Os orgasmos (assim mesmo, no plural) são intensos, numerosos e fáceis. E nós mulheres sabemos que "orgasmo" e "fácil" numa mesma sentença... opa! Onde eu assino? Coisa rara, porque orgasmo pra nós é suado, conquistado, exige concentração e foco, é tarefa árdua. Se não é assim para você, cara leitora, saiba que é uma escolhida por Deus. Logo, deixo que nosso excelentíssimo secretário da Cultura, Mario Frias, ache que eu tenho uma vida solitária - exatamente como a da atriz Fernanda Paes Leme, minha parça de vibrador. Sexo com meu marido é muito do bom, mas não abro mão da minha "vida solitária" pré-banho. Ainda que de vez em quando meu filho bata na porta e pergunte: "Mamãe, ainda no banho?". E eu me esforce pra responder com uma voz séria e compenetrada: "Saindo!".

Eu gosto de ser servida, cuidada, amparada nível hard. Em todos os âmbitos. Se eu pudesse, teria até uma governanta trabalhando aqui em casa. Para não precisar pegar um copo d?água. Um dia fotografei uma grande estrela do cenário pop nacional para revista para qual eu trabalhava. Ela chegou no set com uma ajudante pessoal que havia sido sua babá na infância. Pega mal falar, mas... fiquei com invejinha. Pega mal falar, mas... assim caminha minha humanidade.

MÔNICA SALGADO

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