terça-feira, 20 de outubro de 2020


20 DE OUTUBRO DE 2020
DAVID COIMBRA

Vamos todos para Cidreira! 

Li na Zero Hora desta segunda que está sendo fundado um centro de estudos ufológicos em Cidreira. Você sabe o que estuda um centro de estudos ufológicos?

Discos voadores. Bem. E por que um centro de estudos ufológicos será aberto exatamente em Cidreira?

Resposta: porque os moradores de Cidreira andam vendo discos voadores amiúde. Agora, a última e decisiva questão: por que tem tanto disco voador em Cidreira?

A resposta trepidante: porque é possível que exista, no céu de Cidreira, uma passagem para outra dimensão. Sério! Essa suspeita foi levantada inclusive por uma série de reportagens do History Channel sobre objetos voadores não identificados, que é o mesmo que ufos, que é o mesmo que discos voadores.

Em resumo, isso significa que os extraterrestres, quando querem vir à Terra, entram por Cidreira.

Ao ler essa notícia espetacular, pensei: o que estou fazendo, que não estou em Cidreira, com o queixo levantado, procurando discos voadores? Suponho que deveria passar várias noites lá. São poucos os relatos de aparições diurnas de ufos. O que faz todo sentido: pelo que se sabe, os extraterrestres são discretos, não gostam de ficar se mostrando. Então, é natural que aproveitem as madrugadas para observar a Humanidade in loco sem serem observados. Decidi que Cidreira será o meu destino no verão de 2021, o verão da vacina, o verão das alcinhas erguidas dos biquínis, o verão do ninguém é de ninguém e todo mundo é de todo mundo.

Tudo isso é muito estimulante. Mas o que mais me deixou enlevado, ao ler essa matéria da repórter Aline Custódio, foi a sua natureza absolutamente objetiva. Porque há matérias cheias de intenções nos sites, nos jornais, nas TVs, nas rádios e nas redes, hoje em dia. Mais: quase sempre, são intenções boas. Notícias que pretendem salvar o mundo, despertando a consciência do leitor para os preconceitos da sociedade ou denunciando desigualdades. Notícias que mostram exemplos positivos, histórias de superação, histórias de pessoas que praticam caridade, histórias de heróis do dia a dia.

O problema é que tenho o pressentimento de que esse gênero de publicações está sempre esperando algo de mim. A adesão à causa? A colaboração para a campanha? Ou talvez apenas a minha elevação moral?

Tento me manter a distância desse tipo de notícias. Não por ser contra as pessoas que querem fazer um mundo melhor. Ao contrário: torço para que elas façam esse novo mundo o quanto antes. O caso é que segundas intenções, mesmo que sejam altruístas, me deixam um pouco mareado.

Então, prefiro saber do mundo como ele é. Prefiro a descrição da realidade. Sem ponderações. Sem elucubração. Existe uma porta aberta para outra dimensão acima do mar do Litoral Norte? Conte-me sobre isso, garota. E eu tiro minhas conclusões. E tomo minhas decisões. No caso, aguardem-me, cidreirenses. Estou indo agora mesmo.

DAVID COIMBRA

Nenhum comentário:

Postar um comentário