terça-feira, 20 de outubro de 2020


20 DE OUTUBRO DE 2020
NÍLSON SOUZA

O professor da bicicleta 

Todos nós que vemos a educação como chave para o desenvolvimento das pessoas e das sociedades livres estamos acompanhando com apreensão o atual impasse sobre a volta das aulas presenciais. Depois da busca por remédio ou vacina para essa doença que continua abreviando vidas, acredito que a retomada das atividades escolares passa a ser o desafio mais importante da humanidade em meio à pandemia. Sem educação, não haverá futuro.

Como ensinou Paulo Freire, a educação não transforma o mundo - mas muda as pessoas e as pessoas transformam o mundo. Mais do que nunca, estamos precisando de pessoas transformadoras, criativas e dedicadas para iluminar as trevas do medo, da ignorância, do fanatismo, da corrupção e do autoritarismo. Precisamos de gente como o professor da bicicleta de Camaragibe, em Pernambuco.

O professor Arthur Cabral dá aulas de ciências para alunos do sexto e sétimo anos do Ensino Fundamental numa escola de periferia. Quando começaram as aulas virtuais, no início de abril, ele percebeu que vários estudantes não participavam das atividades por falta de celulares ou por dificuldade de acesso à internet. Na conversa com outros professores, constatou que acontecia o mesmo nas demais disciplinas.

Decidiu, então, ir atrás dos alunos. Preparou kits com material de estudo e tarefas escolares, pegou a sua bicicleta e passou a fazer visitas semanais às casas de todos os meninos e meninas da escola que não participavam das aulas virtuais. A cada sexta-feira, ele percorre vários quilômetros por becos e ruelas para distribuir e recolher trabalhos escolares. O resultado desse inusitado esforço é que nenhuma criança da Escola de Referência Deputado Oscar Carneiro, na Vila Fábrica, ficou sem estudar durante a pandemia.

Estou convencido de que o professor Arthur representa milhares de outros mestres e mestras do país que se reinventaram para não deixar as crianças abandonadas e expostas ao vírus da evasão. Muitos tiveram que ingressar abruptamente no mundo da tecnologia, outros providenciaram material impresso para os pais recolherem na escola e alguns mais ousados, como o pernambucano, levaram a escola aos alunos que ficaram sem acesso a ela.

Gente assim me dá esperança de que superaremos esse conflito em que todos têm razão.

NÍLSON SOUZA

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