sexta-feira, 16 de outubro de 2020



16 DE OUTUBRO DE 2020
CAPA

Arte engajada na Fundação Iberê

Exposição "Pardo É Papel", de Maxwell Alexandre, chega à Capital depois de estrear na França e passar pelo Rio de Janeiro 

Reaberta ao público em 19 de setembro, a Fundação Iberê Camargo recebe, a partir de amanhã, uma exposição com projeção internacional: Pardo É Papel, de Maxwell Alexandre, que faz em Porto Alegre sua terceira parada, após ser vista em Lyon, na França, e no Rio de Janeiro. Na série de trabalhos, o artista retrata o imaginário de questões ligadas à negritude, falando de vitória, ostentação, autoestima e empoderamento preto.

- A designação "pardo", encontrada nas certidões de nascimento, em currículos e carteiras de identidade de negros do passado, foi necessária para o processo de redenção, em outras palavras, de clareamento, da nossa raça. Porém, nos dias de hoje, com o crescimento dos debates, a tomada de consciência e reivindicações das minorias, os negros passaram a projetar sua voz, a se entender e se orgulhar, assumindo seu nariz, seu cabelo e construindo sua autoestima por enaltecimento do que se é. Esse fenômeno é tão forte e relevante que o termo "pardo" ganhou uma conotação pejorativa dentro dos coletivos negros. Dizer a um negro hoje que ele é moreno ou pardo pode ser um grande problema - afirma Maxwell, ao comentar o ato político contido na sua obra.

Pardo É Papel estreou como exposição solo no Museu de Arte Contemporânea de Lyon, feito considerado incomum para um jovem artista. Mas a história do projeto, lembra Maxwel, começou despretensiosamente, quando estudava Design na PUC-RJ:

- Eu costumo colecionar vários materiais, até coisas que vou vendo na rua, e colecionava papéis pardos no laboratório da faculdade. Porque o papel pardo é muito usado no processo de criação de roupas, modelagem. Um dia em que cheguei no ateliê sem saber o que fazer, peguei um papel desses e comecei a pintar.

A série tornou-se pública em março de 2018, quando foi exposta na Noiva, como é conhecida a Igreja do Reino da Arte, na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Depois, uma de suas obras ocupou toda a parede externa do estande da galeria A Gentil Carioca - com a qual Maxwell firmou parceria - no evento SP Arte. Foi lá que o curador francês Matthieu Lelièvre viu a peça e convidou o artista a ocupar o espaço do MAC Lyon.

- Na SP Arte eu vi que a obra tinha uma escala muito grande e comecei a sonhar com essa exposição ganhando relevância tanto nacionalmente quanto internacionalmente. Eu sabia da potência desse trabalho. Quando o Matthieu me chamou, eu tinha esse chão já pronto - diz Maxwell.

Importância

A fragilidade do papel pardo é uma das características das obras, que expõem fitas e rasgos. A ideia é enfatizar a precariedade do material. Mas após uma reflexão do artista sobre o suporte e o propósito de suas peças, algumas narrativas de Pardo É Papel foram migradas. Na Fundação Iberê, há uma única de suas pinturas em tela exposta, da série Golden Shower, produzida com tinta acrílica, látex e betume.

A exposição ficará na capital gaúcha até 17 de janeiro, na primeira itinerância promovida pelo Instituto Inclusartiz, com patrocínio do Grupo Petragold. Em 2022, Pardo É Papel deve passar por outras duas cidades: São Paulo e Nova York.

- Ao visitar a exposição de Maxwell Alexandre no MAR (Museu de Arte do Rio), tive a certeza da importância de Pardo É Papel em Porto Alegre, pela visão social de sua obra e, também, pela oportunidade de abrir nossas portas para a nova geração de artistas que se destacam internacionalmente - afirma Emilio Kalil, diretor-superintendente da Fundação Iberê Camargo.

Em razão da pandemia, para visitar a exposição é necessário comprar ingresso (com valores de R$ 10 a R$ 70, individuais, para grupos e com direito a estacionamento) e realizar o agendamento pelo site Sympla.

O local está aberto de sexta- feira a domingo, das 14h às 18h, com circulação restrita a grupos de no máximo 15 pessoas a cada hora. No local, também estão em cartaz as exposições O Fio de Ariadne, com trabalhos de Iberê Camargo, e Tudo Vem do Nosso Pátio, uma coleção de gravuras assinadas por 34 artistas gaúchos.

PAULA CHIDIAC

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