quinta-feira, 29 de outubro de 2020


29 DE OUTUBRO DE 2020
NÍLSON SOUZA

O livro e o tempo 

Livros... livros? Melhor não lê-los! Mas, se não os lemos, como sabê-lo?

Perdão, Vinicius, mas não pude resistir à analogia com o seu Poema Enjoadinho ao me dar conta de que nesta quinta-feira, 29 de outubro, celebra-se o Dia Nacional do Livro no Brasil e, amanhã, começa oficialmente a primeira Feira do Livro Virtual de Porto Alegre, com uma palestra remota da minha escritora preferida, a chilena Isabel Allende.

Pelo que me lembro, acho que já li quase metade de sua extensa bibliografia: A Casa dos Espíritos, De Amor e de Sombra, Eva Luna, O Plano Infinito, Paula, Afrodite, Filha da Fortuna, Retrato em Sépia, A Cidade das Feras, A Soma dos Sias, O Caderno de Maya e até a folclórica lenda do Zorro, o herói mascarado do cinema e das histórias em quadrinhos, reencarnado no texto talentoso de Isabel Allende. Ganhei o livro em plena quarentena, da querida amiga Rosane Tremea, juntamente com um vidro de biscoitos caseiros de sua própria lavra. Programa completo: um bom livro, biscoitos deliciosos e tempo para ler...

Tempo? Aí chegamos ao busílis. Outro dia o pessoal da Padula Livros desenhou na lousa da calçada da Rua Fernando Machado a jiboia que engoliu o elefante, com uma frase pra lá de inspirada: "Se você acha que isso é um chapéu, está precisando ler mais". Pois bem, se algum raro leitor desta crônica não sabe o que é busílis, talvez esteja precisando ler mais.

E onde arranjar tempo para ler livros, mesmo em meio a essa quarentena eterna? Lamento concluir com uma nota de desencanto, mas estou cada vez mais convencido de que a internet e a tecnologia do mundo virtual, essas mesmas que nos permitirão ver e ouvir Isabel Allende na Feira do Livro sem sairmos de nossas casas, estão cobrando um preço demasiado caro pela magia.

Nosso tempo e nossa atenção.

E, por favor, não tentem me consolar com essa história de que nunca lemos tanto quanto agora, com a comunicação digital, celulares e outros suportes eletrônicos de leitura. Já está provado que esses aparelhos mais nos leem do que são lidos por nós, pois os algoritmos precisam saber o que fazemos, o que comemos, o que vestimos, quanto dinheiro temos no banco e como gastamos o pouco tempo que nos resta quando estamos desconectados.

Livros... Livros... Se não os lemos, como sabê-lo.

NÍLSON SOUZA

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